O Direito e o Cuidado: Aprendendo com Simone Weil
- Lucas Rezende
- 10 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de ago.

Durante um tempo difícil da minha vida, encontrei uma frase que me atravessou de forma definitiva. Era de Simone Weil, filósofa e mística francesa, que escreveu durante a Segunda Guerra Mundial em 1943 no contexto do ensaio La personne et le sacré:
“O ser humano é sagrado quando está em necessidade.”
Essa afirmação me acompanha na minha prática jurídica, nas leituras que faço e, mais ainda, na escuta que procuro cultivar diante da dor do outro.
Weil dizia que o que há de mais sagrado em nós não é a nossa personalidade, nem nossos direitos abstratos, nem aquilo que nos diferencia. O que é verdadeiramente sagrado é aquilo que nos iguala: a vulnerabilidade. O corpo que sente fome. A alma que sofre. O grito que não pode ser dito. A necessidade que clama.
Essa ética da atenção ao sofrimento me toca porque, antes de ser teoria, é experiência. Eu a reconheço quando escuto um cliente que foi adoecido pelo trabalho e agora precisa provar que está doente. Quando vejo uma pessoa com deficiência diante de uma fila sem fim. Quando um homem em crise diz que não aguenta mais, e o sistema só lhe oferece indiferença.
Simone Weil me lembra que ali, exatamente ali, está o que há de mais sagrado.
Não estou dizendo que os direitos não importam. Importam, sim. Mas eles falham quando não reconhecem a dor concreta das pessoas. Emmanuel Levinas chamou isso de “rosto do outro” que nos interpela. Judith Butler fala em “vidas precárias” que não são vistas como dignas de luto. Hannah Arendt nos alertou sobre o perigo de deixar alguém reduzido à “nudez de ser humano” quando tudo já foi tirado, inclusive o reconhecimento.
Hoje, penso que reconhecer o sagrado na necessidade humana é um gesto político e ético. É um modo de agir no mundo com responsabilidade. Não se trata de caridade. É o mínimo.
A advocacia que escolho praticar não pode ser indiferente ao sofrimento. A política que sonho construir não pode ignorar quem já está no chão. A ética que tento viver começa quando me deixo afetar por quem está em necessidade.
Simone Weil não escreveu para confortar. Escreveu para acordar.
E você? Quem são as pessoas em necessidade que o seu olhar ainda não alcançou?
© 2025 - Lucas Rezende, Advogado. Salvador/BA. Todos os direitos reservados.





Comentários